Hotelaria de Salvador não atende necessidades de turistas, por José Queiroz
José Queiróz
A falta de órgão regulador da indústria turística do município, que atenda os interesses de todos os envolvidos, inclusive dos moradores da cidade, facilitou a má utilização dos recursos públicos e a decadência da atividade. A maior parte dos investimentos feita com dinheiro de bancos públicos, teria que ser analisada e autorizada de acordo com as prioridades. É incompreensível a autorização dada à Secretaria de Turismo do Estado para gastar o dinheiro do negócio em automobilismo, feiras livres, passeatas de todo tipo, entre outras ações esdrúxulas.
Salvador é, acima de tudo, destino cultural, mas tem quilômetros de praias bonitas e famosas. Porém, a cidade sempre as negligenciou, assim como ao serviço apropriado, um negócio que gera milhares de empregos, impostos e renda em muitos países do mundo. São os dois principais segmentos da indústria turística mundial, o terceiro é o de aventuras. Porém, o Conselho Baiano de Turismo e o secretário de turismo do Estado, Domingos Leonelli, ignoraram esta vocação para investir em turismo de negócios, que não movimenta a mesma quantidade de pessoas. Por isto, o sumiço do turista!
Os hotéis de lazer de Salvador foram deixados de lado - não há um novo sequer! - entre Praia do Flamengo e o Pelourinho. Os gestores do turismo de Salvador investiram em vários hotéis na Avenida Tancredo Neves e entorno. Faz sentido! Depois da criação dos Convention Bureaus o primeiro foi em Detroit, 1896, e o Brasil já tem 120 para pensar e dar apoio a pessoas que seguiam para aquela cidade por negócios, eles se tornaram um instrumento poderoso para captação de eventos e turistas. O problema de Salvador é ter este Convention Bureau instalado dentro do Estado, onde ele e Bahiatursa captam negócios, mas, apenas para seus parceiros privados, ignorando a cidade.
Proprietários de pequenos hotéis e cadeias não têm a mesma facilidade para adquirir créditos, modernizar, manter, e proteger seus negócios, como as grandes redes e operadoras, principalmente de resorts e cruzeiros, outra prioridade da Secretaria de Turismo do Estado. Toda a orla de Salvador e o Pelourinho se tornaram inseguros pelo aumento da criminalidade gerado pelo desemprego, fazendo com que hotéis paguem indenizações a hospédes assaltados até em seu interior, como aconteceu no Jaguaribe Praia. Além disso, os problemas de mobilidade de Salvador, e serviços elementares como estacionamento, banheiros públicos e telefonia, afastaram o turista.
O modelo de atendimento ao turista que se instalou nas recepções dos grandes hotéis de Salvador não permite atender a todos os interesses dos visitantes, pois se tornou praxe contratos entre hotéis e agências que impedem a livre concorrência, prejudicam outras operadoras, visitantes e moradores. O turista que vem à cidade tem diversos interesses, é impossível uma única agência atende-los. Por exemplo, o turismo religioso, ainda mal explorado na região e o turismo cultural voltado para a História, museus, obras de arte e instituições culturais. Salvador tem muita arte a céu aberto, mas não explora. Além do turismo de aventura que está bem organizado na Praia do Forte, com agências especializadas e experientes, mas não é oferecido em Salvador.
O turista que chega com informações passadas por parentes e amigos, ou colhidas na internet, interessados em conhecer lugares como Cachoeira e Mangue Seco, por exemplo, não podem, porque uma única agência monopoliza o atendimento nos grandes hotéis da cidade. Nem ela vende, nem outro pode vender! Aliás, ela vende, quando tem grupo, se não tiver, o turista volta frustrado, e se outro quiser vender, tem que ser através dela, comissionando, o que encarece os passeios. Agências podem e devem ser instaladas em hotéis, mas não impedir a atuação de outras, muitos menos ter acesso exclusivo a clientes de outros operadores que investiram para trazer este turista.
Os empresários da região devem mobilizar-se para ter suas necessidades atendidas, afinal, Salvador é um nome forte na indústria turística mundial, e seguramente encontrará o modelo ideal de gestão, recuperará seu fluxo, mas com participação de quem conhece o negócio e suas necessidades, de quem tem planos, assumiu compromissos, e pretende sobreviver do turismo, uma atividade que só cresce, absorve pessoas e promove seus crescimentos social e cultural, gera impostos, e força a barra para as cidades se manterem limpas, seguras e dignas de moradores e visitantes que, diga-se de passagem, preferem lugares agradáveis. Seguramente, todos ganharão muito mais!
O autor é agente de turismo em Salvador